Meu fim de ano foi estranho. Eu ainda me sentia menina, mas já gerava uma vida, portanto, mulher. Eu tinha o apoio da minha mãe, meu irmão pentelho, meu cachorro querido... A vida estava boa. Mas eu estava grávida! Era um fato consumado, nada podia mudar isso.
Lembro de passar meu aniversário brigada com minha mãe. Foi um dia triste, o dia 22 de dezembro de 1999. Depois da briga, saí sem rumo, caminhei por muitas ruas, sentei no meio-fio, pensei. Mas, principalmente, senti. Senti tanta coisa misturada, pena de mim mesma... Lamentei não ser como as outras adolescentes, e lamentei estar tão sozinha nunca data que pra mim sempre foi tão especial: meu dia! O dia mundial da Milena.
Sentada no meio-fio, já sem esperança ou alegria, lembrei de uma amiga e decidi ir à sua casa. Ao chegar lá, qual a decepção!, tive que voltar da porta. Eu pedi abrigo, pedi que me deixasse passar a noite lá... Eu estava cansada, era tarde da noite, eu não tinha mais ninguém a quem recorrer... Ou quase ninguém. Mas ela me disse um sonoro NÃO, logo após inventar uma desculpa pra lá de esfarrapada . E eu dei meia-volta. Liguei pra um amigo, a cobrar, de um orelhão, e perguntei se eu podia ir pra casa dele. Ele pareceu até feliz com meu telefonema. Comecei o caminho de volta, pois era do outro lado da cidade.
Ao começar a nova caminhada, fiquei pensando como alguém pode ter coragem de negar abrigo a uma grávida [ou a qualquer pessoa], mas eu já sabia os reais motivos. A mãe da minha amiga me julgava péssima companhia. Eu até a compreendo, hoje em dia, mas na época, fiquei profundamente magoada. E quando eu pensei que mais nada podia acontecer nessa nefasta noite, uma chuva imensa desabou sobre minha cabeça. Eu continuei a caminhada, eu não tinha opção.
Ao chegar à casa do meu amigo, encharcada, cansada, fazendo aniversário de 17 anos, ele me recebeu com um sorriso no rosto, muito carinho, uma cama quente, uma camiseta e um lanche. A noite foi ótima. Conversamos um pouco, depois dormi.
Éramos três ali, comemorando meu dia da melhor maneira possível. Eu, enfim, não estava só.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
embalo